PORTA ABERTA

O Projeto de Extensão  Porta Aberta IV  Mostra das Práticas de TCC do Curso de Artes Cênicas Bacharelado - Tecnovívio no REDE 2021.1 justifica-se a partir de seus objetivos e também dos excelentes resultados obtidos com a avaliação das edições anteriores, quais sejam, – I Mostra dos Espetáculos de Formatura em Artes Cênicas (2017); – II Mostra dos Espetáculos de Formatura em Artes Cênicas Interpretação e Direção Teatral (2018) e – III Mostra dos Espetáculos de Formatura das Artes Cênicas  Interpretação e Direção Teatral (2019). Justifica-se, ainda, pela sua constituição ampla que, sob contexto 2021.1 REDE/UFSM — e em ação convergente entre os organizadores, a plateia digital e os artistas das artes presenciais —, cria espaços digitais de publicação. Nesse sentido, em simultâneo, utiliza um canal You Tube para veiculação dos trabalhos e também proporciona espaços como chat ao vivo, roda de conversa digital e remota (Google Meet) e redes sociais para ouvir e dialogar com o público remotamente. 

Um processo de criação em teatro pode se dar a partir da tensão e do confronto físico entre os elementos  constituintes da cena visando uma  poética, cuja excepcionalidade e materialidade se faz no compartilhamento do tempo e do espaço físico com a plateia. A filosofia do teatro organiza o termo teatro como “todas as manifestações artísticas que combinam convívio, poiesis corporal e expectação, encarnando o acontecimento teatral” (Dubatti, 2016, p.20).

A impossibilidade do convívio dubattiano, decorrente das ações necessárias ao combate da pandemia Covid-19, se faz pelo impedimento da presencialidade desde o primeiro semestre acadêmico de 2020 e direciona  o estudo, a atuação e a criação de cena ao modo remoto e digital. Impõe-se, assim, aos discentes formandos 2021.1, um espaço de trabalho desconhecido sob outra linguagem e outro paradigma. Esse contexto integralmente digital ou mediado também evidencia a discussão e os questionamentos que já estão expostos no métier teatral. Trata-se de perspectivas, provocações, poéticas e reflexões que abordam composições e tensões entre a realidade presencial e a realidade mediada e digital, e que se desdobram dentro e fora do contexto acadêmico.

O evento justifica-se também pela possibilidade de criar fendas e certa porosidade para movimentar e avançar o pensamento sobre diversas perspectivas dessa experiência digital e remota, e, com isso, problematizar aspectos específicos sobre essa circunstância de excepcionalidade no REDE/UFSM e gerar questões que talvez só essa imposição da ausência da presencialidade sob a atuação remota e de afastamento físico por protocolos de biossegurança, por tanto tempo, nos permita acessar. 

Ao estabelecer um espaço de tecnovívio e, como tal, desterritorializado e mediado, a IV  Mostra das Práticas de TCC do Curso de Artes Cênicas Bacharelado - Tecnovívio no REDE 2021 abre a porta para compartilhar com o público tanto as investigações, os questionamentos, os desafios e os diversos formatos de práticas quanto um espaço para ouvir, dialogar e refletir. O evento artístico, aberto ao público em geral, ao instaurar certas referências e processos de criação potencializa o avanço das reflexões e intenciona abrir espaços para se pensar o tempo, o espaço e a cena contemporânea por esse  movimento e perspectivas. Problematiza-se, por conseguinte, o processo de criação, questões epistemológicas no processo de formação, a(s) linguagem(ns) e elementos de cena, o(s) tempo(s), o(s) espaço(s), a perspectiva do que se revela, a(s) perspectiva(s) do que se vê e a relação "palco-plateia".

A IV  Mostra das Práticas de TCC do Curso de Artes Cênicas Bacharelado - Tecnovívio no REDE 2021 traz em sua constituição a circulação de Práticas de TCC das duas Habilitações – Direção Teatral e Interpretação Teatral  tensionando  o conceito tecnovívio: “Ao conceito de convívio, opomos a noção de tecnovívio, isto é, a cultura vivente desterritorializada por intermediação tecnológica.” (Dubatti, 2012, p.129).

O evento também abre a cena às discussões sobre  as duas categorias dubattianas do tecnovívio, e, para tanto, torna-se necessário apresentar tais noções propostas pelo historiador: 

 

    Podem-se distinguir duas grandes formas de tecnovívio: o tecnovívio monoativo, no qual não se estabelece um diálogo de mão dupla entre duas pessoas, mas a relação de uma pessoa     com uma máquina ou com um objeto ou dispositivo produzido por essa máquina, cujo gerador humano se ausentou no espaço e/ou no tempo. O tecnovívio interativo sintetiza-se na relação bidirecional: homem 1 - máquina - homem 2; o monoativo sintetiza-se em: {homens}.  Denominamos dialógico o tecnovívio interativo, e monológico, o monoativo. (Dubatti, 2012, p.129).

 

Isto posto, ao publicar as Práticas dos Trabalhos de Conclusão de Curso em três formatos, quais sejam:

a) Prática de TCC digital e remota – tecnovivial (Dubatti, 2012), criada em salas de  videoconferência e publicada com transmissão ao vivo via YouTube;

b) Prática de TCC digital e tecnovivial - monoativo (Dubatti, 2012), criada em vídeo e publicada via YouTube;

c) Prática de TCC presencial - monoativo (Dubatti, 2012), publicada no formato vídeo de prática presencial via You Tube,

 o evento detona a discussão, ao menos, sob duas perspectivas: 

1) a da produção artística veiculada sob diversos formatos e publicada no canal do do YouTube, condição que podemos pensar da relação palco digital e plateia digital  sem interatividade – a monoativa  (Dubatti, 2012); 

2) a relação “homem 1 - máquina - homem 2” existente no chat do YouTube ao vivo e nas salas de encontro remoto que reúne artistas e plateia  – a interativa  (Dubatti, 2012). 

À vista disso, nos três formatos artísticos presentes no evento não há a proposta de interação direta – monoativa (Dubatti, 2012) e em tempo real entre os atores e a plateia remota. 

O evento também se justifica com o constante agir que visa à formação de plateia, bem como reafirma a relação entre a comunidade e a produção artística e acadêmica. Por essa e outras perspectivas, também dialoga com o mundo e colabora com a formação de um pensamento em Arte que tensiona o modo presencial a partir da realidade remota e digital, imposta a todos no combate à Pandemia Covid 19 como meio para continuar a pesquisa, a criação e o trabalho a partir de elementos constituintes da cena teatral.

A IV  Mostra das Práticas de TCC do Curso de Artes Cênicas Bacharelado - Tecnovívio no REDE 2021, por sua natureza extensionista, promove a publicação da produção artística discente tendo como alvo o público externo de atuantes na área das Artes e também e o público digital espontâneo.

 Desse modo, os estudos práticos dos TCCs, vinculados à pesquisa e ao ensino, visam atingir extensão pela circulação proporcionada pela IV Mostra. Por esse canal, o tecnovivial, o discente atinge a totalidade de sua formação contemplando o tripé acadêmico ensino, pesquisa e extensão sob a experiência de um processo de formação necessário, inovador, arriscado, crítico e em diálogo com público. A IV Mostra, além disso, é uma forma de diálogo com a realidade pandêmica instaurada do mundo há mais de um ano e meio. É, além do mais, uma corajosa resposta.

 O evento, em sua totalidade experienciada, também se justifica pela provocação que se move em camadas mais diversas e profundas ao propor espaços e momentos para reflexão discente e docente, problematizando, ainda, o contexto físico e doméstico no qual se trabalha – cada um em sua casa que passa a ser utilizada, compartilhada e publicada como um laboratório de pesquisa em arte cênicas – com a formação profissional e acadêmica do artista, do professor, do produtor e do pesquisador. Em outros termos, o projeto também acessa diversas camadas para  colaborar com as discussões sobre o contexto de trabalho doméstico e caseiro, o qual, exige do discente, em momento de finalização de curso, uma atuação precisa, artística, profissional e crítica no que concerne à articulação de diversas funções em simultâneo. Com isso, certas hierarquias institucionais no processo de criação e seus formatos também entram na arena.

Abrir a(s) Porta(s) das Práticas dos TCCs no REDE/UFSM 20201.1, para os pares e para a comunidade em geral, no sentido brookeano do termo, também pode significar abrir espaços vazios para distanciar criticamente de algumas dúvidas e determinadas certezas e, a partir desse movimento, atualizar e problematizar princípios formativos e também colaborar na construção, quiçá, de outros paradigmas.